OCA - Residência Artística Internacional 2017
Autores:Alex Calheiros e
Estefânia Dália
Selo: Caliban
Apresentação:
OCA, uma Casa do Tamanho de um Continente
Casa da Cultura da América Latina nasceu, em 1987, de uma iniciativa da Universidade de Brasília, ao fim do primeiro Festival Latino-americano de Arte e Cultura (FLAAC) que reuniu, na cidade, dezenas de artistas das mais diversas linguagens e expressões, vindos de diversos países da América Latina e do Caribe.
Por dias seguidos, os artistas convidados se apresentaram em Brasília, trocaram experiências com artistas locais, comunidade universitária e sociedade, criando um ambiente de unidade cultural ímpar. Uma experiência tão forte que até hoje deixa muitos, que experimentaram aqueles dias, nostálgicos.
Em 2017, a CAL, como é por todos conhecida, completava trinta anos e, ao retomar os trabalhos, foi inevitável fazer um balanço e se reencontrar em sua missão. Ou seja, promover o fomento, a difusão e a integração da cultura latino-americana.
Quando a Casa da Cultura da América Latina foi criada, o Brasil vivia um momento particular, marcado pela reabertura política. Acabávamos de sair de uma longa e sombria ditadura militar. A democracia renascia e, com ela, o entusiasmo e o desejo de dar continuidade aos ideais interrompidos por aqueles longos e tão terríveis anos. Um dos ideais interrompidos e acalentados na noite escura da nossa história, foi, sem dúvida, aquele de aproximação com os países que guardavam conosco uma herança política comum e uma diversidade cultural imensurável. Apesar da condição colonizada, aqui se formaram culturas distintas que os séculos de opressão forjaram em novos modos de expressão. Momentos de dor e de celebração compuseram essa complexa e paradoxal identidade. Em todo o Brasil, vivendo a intensidade desse clima, houve um movimento forte de criação de centros de estudos latino-americanos para fortalecer, recriar, e mesmo criar, os laços frágeis que sustentavam nossa integração política e cultural. Integração que continua sendo um desafio.
Diante do peso histórico da nossa própria história, e levando em conta que sempre é tempo de recomeçar, a pergunta que nos colocamos foi: o que fazer para além de marcar a data e assumir, de verdade, a missão para a qual a Casa foi criada?
Assim surgiu o OCA. Um programa de residência artística internacional, voltado para promover o encontro de jovens artistas latino-americanos e contemporâneos, para fazer uma experiência de imersão radical na cidade de Brasília. O tema permanente que norteia as residências é: experiência e cidade na América Latina.
Algumas coisas nos pareciam importantes ao justificar e elaborar o programa.
Em primeiro lugar, retomar o ideal de integração cultural latino-americana por reconhecer nesse, a identidade da própria Universidade de Brasília, pois, em sua criação, um de seus objetivos centrais era o de criar uma universidade absolutamente nova e alinhada com o projeto de desenvolvimento dos países latino-americanos. O OCA, assim como foi o FLAAC, deveria significar, para nós, um reencontro com nossa história e com nossa verdade; em segundo lugar, pareceu-nos que Brasília, enquanto cidade planejada e moderna, é, para o bem e para o mal, um espaço paradigmático para pensar o desenvolvimento de nossas realidades urbanas e pensar nossa experiência tão diversa de comunidade. A cidade é, enfim, uma grande casa. Espaço do encontro de diversidades incontáveis, de experiências ricas e abertas. Por fim, a Universidade é o lugar propício para a experimentação, o debate e a criação.
Em sua primeira edição, o programa OCA trouxe a Brasília seis artistas de países diversos: Colômbia, Guatemala, México, Peru e Brasil. Ao longo de um mês, os artistas conheceram inúmeros aspectos de Brasília, não somente aqueles dos cartões postais, mas também, a cidade que nem sempre é mostrada: a Brasília racionalista, do Plano Piloto, e a Brasília mística, do Vale do Amanhecer. A Brasília planejada e a Brasília da periferia. A Brasília moderna e a arcaica. A convivência intensa com os estudantes e os artistas locais. Enfim, a experiência deixou marcas na Universidade, na cidade e em cada um de nós. O objetivo principal, a aproximação, o reconhecimento mútuo e a certeza que continuaremos juntos, daqui pra frente, debatendo, experimentando e criando, foi alcançado e tende a se expandir e se fortalecer nos anos seguintes.
"Te hago nacer en medio De las brumas, Para que brillante sea El porvenir de mi Pueblo. Te hago nacer en el ‘planalto´ Para ubicarte en el corazón De mi tierra. Te hago nacer hoy en Brasilia, Para que seas la CASA de Encuentros de todos mis Hermanos. Te hago nacer para que seas Y para que nos hagas ser... LIBRE, AMÉRICA LATINA."
Estes são os dizeres encontrados em um cartaz que data da criação da Casa da Cultura da América Latina, assinado por sua primeira diretora, a professora Laís Aderne. Eis nosso ponto de partida e nosso horizonte.
Alex Calheiros
Diretor de Difusão Cultural do DEX - UnB
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